...O pássaro rompe a barreira dos limites e vai buscar o alimento no fundo das águas, contemplando no bico o ciclo natural da vida, em que os seres se alimentam de outros seres, nesse imenso repertório de possibilidades, em busca da sobrevivência.
As lições de um pássaro nem sempre são percebidas pelos seres humanos, muitas vezes amordaçados a seus medos e inseguranças.
Na hora de alçar o vôo rumo a horizontes mais vastos de percepção, eis que eles se algemam a âncoras limitantes, vendo, sentindo e pensando de forma pequena, pobre e reducionista.
No momento do mergulho, então, todos os receios, justificativas e desculpas aparecem, tentando convencer das razões para não se sair da zona de relaxamento, a fim de que tudo continue como está, ainda que a situação esteja muito ruim.
Mergulho em si mesmo? Para que, se a festa aqui do lado de fora está boa, com prazeres, facilidades e conquistas tranquilamente alcançadas, ainda que etéreas e transitórias?
Mergulho em uma relação a dois? Para que, se o que quero - sexo, beleza fugaz e conquistas imediatas - me chegam num piscar de olhos, para aplacar minhas profundas carências de companhia e de miséria afetiva? Mergulho em minha relação com a comunidade? Qual seria a razão para isso, se usufruo do que quero sem precisar me aprofundar nos laços com alguma causa social relevante, como ajudar a cuidar de crianças carentes, de idosos abandonados ou das matas e águas de meu país, profundamente agredidas?Mergulho em minha relação com a espiritualidade? Para que, se está cada vez mais fácil adaptar minhas necessidades existenciais não à essência da alma, mas às transitoriedades do corpo?Mergulhar no profundo de mim mesmo. Reconhecer a lição de um martim-pescador. Enfrentar a missão de desbastar as imperfeições do ser que somos, afim de atingir a meta de alcançar a perfeição do ser que almejamos. Mergulhar no profundo de mim mesmo. Reconhecer a lição de um martim-pescador. Enfrentar a missão de desbastar as imperfeições do ser que somos, a fim de atingir a meta de alcançar a perfeição do ser que almejamos.O que nos impede de buscar isso? Até quando ficaremos flutuando, feito pipas, que querem atingir os céus, mas não conseguem se desvencilhar do barbante que as retêm no solo?
Carlos Augusto Abranches
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