A gente
pode entristecer-se por vários motivos ou por nenhum motivo aparente, a
tristeza pode ser por nós mesmos ou pelas dores do mundo, pode advir de uma
palavra ou de um gesto, mas que ela sempre aparece e devemos nos aprontar para
recebê-la, porque existe uma alegria inesperada na tristeza, que vem do fato de
ainda conseguirmos senti-la.
Pode parecer confuso, mas é um alento...
Olhe
para o lado: estamos vivendo numa era em que pessoas matam em briga de
trânsito, matam por um boné, matam para se divertir.
Além
disso, as pessoas estão sem dinheiro.
Quem
tem emprego, segura.
Quem
não tem, procura.
Os
que possuem um amor desconfiam até da própria sombra, já que há muita oferta de
sexo no mercado.
E
a gente corre pra caramba, é escravo do relógio, não consegue mais ficar
deitado numa rede, lendo um livro, ouvindo música.
Há
tanta coisa pra fazer que resta pouco tempo pra sentir.
Por isso, qualquer sentimento é bem-vindo, mesmo que não seja uma euforia, um
gozo, um entusiasmo, mesmo que seja uma melancolia.
Sentir
é um verbo que se conjuga para dentro, ao contrário do fazer, que é conjugado
pra fora.
Sentir alimenta, sentir ensina, sentir aquieta. Fazer é muito barulhento.
Sentir é um retiro, fazer é uma festa.
O
sentir não pode ser escutado, apenas auscultado.
Sentir
e fazer, ambos são necessários, mas só o fazer rende grana, contatos, diplomas,
convites, aquisições.
Até
parece que sentir não serve para subir na vida.
Uma pessoa triste é evitada.
Não
cabe no mundo da propaganda dos cremes dentais, dos pagodes, dos carnavais.
Tristeza
parece praga, lepra, doença contagiosa, um estacionamento proibido.
Ok,
tristeza não faz realmente bem pra saúde, mas a introspecção é um recuo
providencial, pois é quando silenciamos que melhor conversamos com nossos
botões.
E
dessa conversa sai luz, lições, sinais, e a tristeza acaba saindo também, dando
espaço para uma alegria nova e revitalizada.
Triste
é não sentir nada...
Martha Medeiros
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