quinta-feira, 26 de março de 2015

A dor de uma saudade...

Trancar o dedo numa porta dói. 
Bater com o queixo no chão dói. 
Torcer o tornozelo dói. 
Um tapa, um soco, um pontapé, doem. 
Dói bater a cabeça na quina da mesa, 
dói morder a língua, dói cólica, 
cárie e pedra no rim. 
 Mas o que mais dói é saudade. 
 Saudade de um irmão que mora longe. 
Saudade de uma cachoeira da infância. 
Saudade do gosto de uma fruta 
que não se encontra mais. 
Saudade do pai que já morreu. 
Saudade de um amigo imaginário 
Que nunca existiu. 
saudade de uma cidade. 
Saudade da gente mesmo, 
que o tempo não perdoa. 
Doem essas saudades todas. 
 Mas a saudade mais dolorida 
é a saudade de quem se ama. 
 Saudade da pele, do cheiro,dos beijos. 
Saudade da presença, 
e até da ausência consentida. 
Você podia ficar na sala e ela no quarto,sem se verem, 
mas sabiam-se lá. 
Você podia ir para o escritório e ela para o dentista, 
mas sabiam-se onde. 
Você podia ficar o dia sem vê-la, 
ela o dia sem vê-lo, 
mas sabiam-se amanhã. 
 Mas quando o amor de um acaba, 
ao outro sobra uma saudade 
que ninguém sabe como deter. 
 Saudade é não saber. 
Não saber mais se ele 
continua se gripando no inverno. 
Não saber mais se ela 
continua pintando o cabelo de vermelho. 
Não saber se ele 
ainda usa a camisa que você deu. 
Não saber se ela 
foi na consulta com o dermatologista 
como prometeu. 
 Não saber se ele tem comido frango assado, 
se ela tem assistido as aulas de espanhol, 
se ele aprendeu a entrar na Internet, 
se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, 
se ele continua preferindo Pepsi, 
se ela continua sorrindo, 
se ele já sabe dançar, 
se ela...continua lhe amando. 
 Saudade é não saber. 
 Não saber o que fazer com os dias 
que ficaram mais compridos, 
não saber como encontrar tarefas 
que lhe cessem o pensamento, 
não saber como frear as lágrimas 
diante de uma música, 
não saber como vencer a dor de um silêncio 
que nada preenche. 
 Saudade é não querer saber se ele está com outra, 
e ao mesmo tempo querer. 
É não querer saber se ela está feliz, 
e ao mesmo tempo querer. 
É não querer saber se ele está mais magro, 
se ela está mais bela. 
 Saudade é nunca mais saber de quem se ama, 
e ainda assim, 
doer. 

Martha Medeiros

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