quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

A gente morre sem se abrir...








"Há um vento que desconhecemos.
Há um córrego, em algum lugar, onde nunca banharemos os pés.
Há pequenas plantas, arbustos, que nascem nas encostas, mas que não temos como tocá-las.
É bem assim uma alma humana: nunca temos como tocá-la de todo.
A gente morre sem se abrir para o mundo. A gente morre sem experimentar todas as sensações.
Ficamos presos a prazeres tipicamente mundanos, daqueles que todos já descobriram, daqueles que todos experimentam, e repetem sistematicamente através dos anos.

Eu desconfio desses prazeres facilmente acessíveis nos quais todos se regozijam. Me parece um jogo de imitação, não me parece uma busca original por quem somos e por aquilo que queremos.

Eu sempre quis mais, eu sempre quis ver por trás das aparências. Há um tesouro escondido em cada condição de vida humana, em cada coração, mas as pessoas preferem um carro veloz ou uma casa murada. As pessoas preferem o intelectual de fala difícil, mas que não diz nada.

Eu também me perdi, mas estou aqui.
Você volta quando?
O que espera do ano que se inicia?
O que espera de todos os anos que ainda virão?

Na penumbra, eu não sei me explicar. A clareza desaparece. As pessoas estão erradas!

Na penumbra, o toque suave, o aconchego, a noite macia que acaba, abrupta, no sol da manhã. Estamos em outro estágio.

Estamos correndo, afoitos, porque a vida nos pede isso. Mas eu nunca vou conseguir explicar esses minutos suspensos no ar, esse silêncio, esse instante que avança através da respiração. A poesia desse momento não tem nome, mesmo que seja uma poesia que também traga, secretamente, a mágoa de não se saber viver."

Robson Cassimiro

(Trecho do seu próximo livro, Meu Mundo em Palavras 2)

Nenhum comentário: