quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Vivemos nos chocando!


Sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013.
Um meteoro cruza os céus de Chelyabinsk, na Sibéria (Rússia), e explode, criando um violento deslocamento de ar que estilhaça vidraças, destelha fábricas e fere, sem gravidade, mais de 1.000 pessoas.
Então, tá, né? Ninguém morreu. Que bom!
O meteoro chegou à atmosfera com 15 metros de diâmetro, 7.000 toneladas e velocidade de 65.000 km/h, e explodiu a uma altitude de 30 quilômetros.
Agora, vejam bem: tivesse, esse mesmíssimo meteoro, explodido a míseros 10 quilômetros do solo (como aconteceu em Tunguska, também na Sibéria, em 1908), teria provocado ainda mais destruição e matado milhares de pessoas. Eu disse “matado” e disse “milhares”.
Interessante registrar que nem a NASA, nem cientista ou astrônomo de canto algum do planeta emitiu qualquer tipo de alerta sobre esse nosso visitante esquentadinho.
Isto posto, ponho-me a pensar: o que nos garante que, neste exato momento, não haja um outro, de proporções assustadoras (como o que, supostamente, extinguiu os dinossauros há 65 milhões de anos) vindo, violentamente, ao nosso encontro?
Sem querer ser alarmista, trabalho com a realidade. O pior cego é o que não quer ver. A Terra, esse nosso imenso planeta, não passa de uma pequena cabeça de alfinete solta no espaço, em meio a um número infinitesimal de outros corpos celestes, também soltos por aí. O que torna, não diminutas, as chances de um encontrão com um pedregulho resultante da explosão de uma velha estrela, oriundo dos confins do universo.
Afora isso tudo, sem a “ajuda” externa, já temos as catástrofes naturais dentro de nosso próprio planeta. Estamos, sempre, há apenas 10 segundos (ou menos) de um Tsunami, um terremoto, um tornado devastador...
Tá! Agora, chega de botar medo!
Eu disse isso tudo, mas, na verdade, o meu recado é outro. O que eu quero dizer é outra coisa.
Eu quero é falar, diretamente, a você...
A você, que odeia chegar a uma festa e encontrar uma moça com um vestido igualzinho ao seu.
A você, que tem nojo de tudo, cheio de “não-me-toques”.
A você, que só gosta de andar na moda, com roupinha de marca e Nike no pé, e se sente menos se não estiver vestido assim.
A você, que tem preconceito de cor.
A você, que não gosta quando obesos se sentam ao seu lado no ônibus.
A você, que discute no trânsito e xinga outros motoristas.
A você que, no engarrafamento, se acha esperto ao andar pelo acostamento.
A você, que vai à academia e fica se lambendo diante do espelho.
A você, que morre se não fizer as unhas no sábado.
A você, que não admite nada fora do lugar.
A você, que reclama quando chove e quando faz sol.
A você, que cobiça tudo o que é do vizinho.
A você, que compra um monte de livros, mas não lê nenhum.
A você, que se diz fluente em inglês, mas nunca saiu do verbo to be.
A você, que se mostra educado com pessoas importantes, mas humilha o faxineiro do seu prédio.
A você, que se acha intelectual por gostar de Woody Allen, Freud e Nietzsche, mas não entende nada do que eles dizem.
A você, que se descabela discutindo futebol.
A você, que grita por qualquer coisa, é grosso, trata mal aqueles que te querem bem.
A você, que escreve um monte de bobagens, mas se acha um poeta.
A você, que é soberbo.
A você, que não fala com seu pai ou irmãos.
A você, que vive longe de quem ama.
A você, que ama, mas nunca diz.
A você, que é orgulhoso.
A você, que não perdoa.
A você, que não cede o lugar.
A você, que não doa, não oferta e não empresta.
A você, que não sabe ser lume.
A você, que não é caridoso.
A você, que não ensina nada.
A você, que não sorri, que anda de cara amarrada.
A você, que agride, que morre de ciúmes.
A você, que trai covardemente.
A você, que agora, com poder, pisa nos outros.
A todos vocês, eu digo: cuidado com o meteoro que chega na calada da noite (ou do dia) sem avisar. Ele pode estar a 10 segundos daqui (ou menos) e a Nasa não pôde avisar.
Quando ele bater, nada vai sobrar. Nada mais vai importar.
Então, perde o sentido o fora que você deu, o vestido igual ao seu, o lugar que você não cedeu e o destino para o qual você correu.
O que há de pior em nosso planeta não é o risco de meteoro, somos nós.
Somos nós, que não amamos direito.
Somos nós, que não aprendemos a viver como irmãos.
Somos nós, que vivemos nos chocando (bem antes do meteoro), por tudo e por nada.
Então, desejo a você que, quando o meteoro bater (se ele bater), que você esteja ao lado daqueles que você ama, e tenha a dignidade de dizer isso a eles.
Que você esteja longe daquilo que não o faz bem, que não o engrandece. Longe das mentiras, das fofocas, da falsidade e das pequenas mesquinharias.
Que tenha deixado de dar importância àquilo que não tem nenhuma.
Que esteja bem, feliz e em paz consigo mesmo.
Que ame muito e não odeie nada.
Porque, se o meteoro, por acaso, passar direto... se o meteoro não bater... estaremos vivendo num planeta muito melhor.

Robson Cassimiro

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