sábado, 14 de agosto de 2021

Existir sem pedir perdão.


Imagem de Alexey Mikhailovich Gritsay (Rússia, 1914-1998)

 " Filha, lembras-te do tempo em que eu passava tardes e tardes costurando?- Lembro-me, mãe. Éramos tanto filhos, tantas roupas...

- A maior parte das vezes eu só fingia que costurava.

- Fingia? Fingia para quê?
- Os homens não gostam que as mulheres pensem em silêncio. Ficam desconfiados...
- Assim, enquanto eu costurava, o seu pai não suspeitava que eu pensava...
Os meus pensamentos viajavam por todo o lado...
Nesses escassos momentos, eu, Constança, era mulher sem ter que pedir licença, existindo sem ter que pedir perdão."

Mia Couto, in 𝘖 𝘰𝘶𝘵𝘳𝘰 𝘱é 𝘥𝘢 𝘴𝘦𝘳𝘦𝘪𝘢

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