domingo, 21 de outubro de 2012

Como se fosse o último!




Quem dera eu aprendesse a viver cada dia como se fosse o último. 
O último para dizer “obrigada”. 
O último para dizer “me desculpa”. 
O último para dizer “eu te amo”. 
O último para abraçar cada pessoa amada com aquele abraço bom que faz um coração cantar para o outro. 
O último para apreciar a vida com o entusiasmo que não guarda nenhuma delícia nem ternura pra depois. 
O último para fazer as pazes. Para desfazer enganos. Para saborear com calma, como se me servissem um banquete, a preciosidade genuína que cada único respiro humano representa. 

Quem dera eu aprendesse a viver cada dia como se fosse o último. 
O último pra esquecer tolices. 
O último para ignorar o que, no fim das contas, não tem a menor importância. 
O último para rir até o coração dançar. 
O último para chorar toda dor que não transbordou e virou nódoa no tecido da vida. 
O último para aprontar todas as artes que a emoção quiser. 
O último para ser útil em toda circunstância que me for possível. 
O último para não deixar o tempo escoar inutilmente entre os dedos das horas. 

Quem dera eu aprendesse a viver cada dia como se fosse o último. 
O último para me maravilhar diante de cada expressão da natureza com o olhar demorado de quem olha pela primeira vez. 
O último para ouvir aquela música que acende sóis por toda a extensão da minha alma. 
O último para ler, de novo, o poema que diz tanto de mim que eu me sinto caber nos olhos do poeta que o escreveu. 
O último para desembaraçar os fios emaranhados dos medos que me acompanham. 

Quem dera eu aprendesse a viver cada dia como se fosse o último. 
Eu não perderia uma chance para me presentear com os agrados que me nutrem. 
Eu criaria mais oportunidades para dizer o meu amor. 
Para expressar a minha admiração. 
Para destacar para cada pessoa a beleza singular que ela tem. 
Para compartilhar. 
Eu não adiaria delicadezas. 
Não pouparia compreensão. 
Não desperdiçaria energia com perigos imaginários e com uma série de bobagens que só me afastam da vida. 
Quem dera eu aprendesse a viver cada dia como se fosse o último, porque pode ser. 

ANA JÁCOMO




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