A pomba, que por medo do gavião, se recusasse a
sair do ninho, já se teria perdido no próprio ato de fugir do gavião. Porque o
medo lhe teria roubado aquilo que de mais precioso existe num pássaro: o vôo.
Quem, por medo do terrível, prefere o caminho prudente de fugir do risco, já
nesse ato estará morto. Porque o medo lhe terá roubado aquilo que de mais
precioso existe na vida humana: a capacidade de se arriscar para viver o que se
ama.
O
que é decisivo é se o medo nos faz rastejar ou se ele nos faz voar. Quem, por
causa do medo, se encolhe e rasteja, vive a morte na própria vida. Quem, a
despeito do medo, toma o risco e voa, triunfa sobre a morte. Morrerá, quando a
morte vier. Mas só quando ela vier.
Rubem Alves
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